sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Vícios e Dependências


O vício não é um mecanismo único e básico, que possa ser explicado e rotulado de maneira simples. Ao contrário, existe toda uma série de componentes que interfere, influenciando o comportamento de uma pessoa, até que a mesma alcance o vício.
A própria natureza concedeu, a todos nós, o desejo de querer repetir uma experiência, se ela foi agradável. Precisamos dessa capacidade para comer, beber, fazer sexo, para assegurar nossa sobrevivência e manter a espécie.
Quando falamos em vício e dependência, estamo-nos a referir a um comportamento repetitivo e destrutivo, relacionado ao abuso de substâncias ou de actividades, levando a terríveis consequências físicas e sociais. As explicações para esse comportamento são as mais diversas.


Muitos vão dizer que é uma fraqueza de carácter de pessoas que não são capazes de assumir responsabilidades e que são auto-destrutivas. Outros vão dizer que é falta de autocontrolo e sinal de ignorância. Muitos psicólogos e psiquiatras as tratam como tendências e traços de personalidades de pessoas que seriam viciáveis. Os estudiosos da linha fisiológica dizem que se trata de um problema genético-heraditário, enquanto os da linha mais social afirmam ser uma situação culturalmente determinada.
No entanto, a teoria mais amplamente aceite é a de que os vícios são doenças. Popularizada pelos Alcoólicos Anónimos, esta teoria trata o vício como algo anormal e irreversível, contra o qual a total abstinência para o resto da vida seria o único tratamento.
Este modelo de explicação é facilmente assimilável, porque agrada a muita gente.





Os alcoólicos, porque se vêm como doentes, como vítimas que precisam de tratamento. Os não alcoólicos, porque acham que não precisam de se preocupar, já que não são portadores da doença. E os médicos, porque ganham pacientes.
A indústria de bebidas é a que mais valoriza essa ideia, uma vez que o problema não estaria no álcool, mas na pessoa.
Isto é uma absurda distorção, pois o álcool é uma droga perigosa que pode levar à morte.
A verdade é que vícios precisam ser estudados levando-se em conta não só o indivíduo, mas também o meio em que ele vive e qual a substância ou actividade envolvida na dependência.

Todos temos comportamentos viciantes e dependências, mas a maneira como isso é vivido pode levar à necessidade de tratamento, ou não. Existem maus hábitos, compulsões e até fissuras, com mecanismo cerebral idêntico ao de vícios como, por exemplo, o da heroína e cocaína: vício por comer chocolate; por navegar na Internet; por corrida de carros; ou o de lavar as mãos constantemente ou até mesmo o de brincar com vídeo jogos. Mas, se observarmos do ponto de vista comportamental e mesmo fisiológico, as consequências trazidas por esses vícios nem se aproximam daquelas provocadas pelas drogas pesadas, que levam à delinquência e à autodestruição.


As Pistas

Existem características que nos ajudam a diagnosticar comportamentos e situações que denunciam os vícios como perigosos e determinam a pessoa dependente: A substância ou a actividade inicial causa muita sensação de prazer. O corpo desenvolve uma tolerância física pela substância ou actividade, de tal maneira que a pessoa passa a necessitar de maiores quantidades, para obter o mesmo efeito. Independente da tolerância física, o vício envolve uma dependência psicológica, associada ao desejo e fissura, que causa um tremendo desconforto.

O vício provoca alterações cerebrais, fisiológicas, químicas, anatómicas e comportamentais. Requer uma experiência inicial com a substância ou actividade. Sendo o primeiro contacto a iniciação, que pode levar ou não à dependência, mas que, quando acontece, vai proporcionar ao cérebro e ao corpo os efeitos que vão fazer com que a pessoa queira repetir a experiência. O vício provoca distúrbios na conduta, tempo e energia, afasta a pessoa do convívio social amplo, levando-a a um pensamento obsessivo na droga ou no acto. A sensação de alívio provocada pelo vício é tão forte, para o dependente, que isso explica porque é tão fácil parar e recair seguidas vezes. O desconforto terrível provocado pela retirada é ainda menor que o prazer do recomeço.

Traços Comuns:


Os dependentes também evidenciam características comuns:


· São vulneráveis e susceptíveis ao contacto com a substância ou actividade que vai levá-los à dependência;
· Tendem a gostar do risco, de sensações fortes e pensam que jamais vão se tornar dependentes da droga que experimentaram;
· Têm preferência por uma droga ou actividade em particular e desenvolvem sua própria maneira de utilizá-la;
· Demonstram dificuldade com o autocontrolo e em lidar consigo mesmo;
· Não suportam bem as situações de stress e não são bons colaboradores, no grupo;
· Tendem a não reconhecer as dificuldades para tomar decisões quanto às suas vidas;
· Parecem suportar muito mais as altas quantidades de drogas;
· Alcoólicos, por exemplo, são capazes de beber altas doses, antes de começar a sentir os efeitos do álcool.